A Promessa

Capítulo 1
Lembranças

 





Suzi despertou com a fraca claridade que adentrava o quarto. Os leves raios frios de sol passavam pela janela e pousavam sobre o edredom cor-de-rosa que a cobria. Ao olhar para a cama ao lado, viu que Mônica já se levantou, seu tão amado coelhinho azul deitado sobre o travesseiro. A loira se sentou em sua cama de armar, se espreguiçando. Era o início de um longo dia.
As aulas do terceiro bimestre tinham começado no Colégio do Limoeiro e Suzi começou a se organizar para sua primeira aula. Estava ansiosa, tinha roído todo o esmalte rosa choque das unhas na noite passada. Assim que juntou as roupas que iria usar (um conjunto de blusa e saia cor-de-rosa claro e o seu tradicional moletom estampado com a bandeira do Reino Unido) Mônica entrou no quarto só de toalha:

– Ah, até que enfim! Achei que não ia levantar mais! – Mônica deu um beijinho de bom dia no rosto de Suzi e se dirigiu ao guarda-roupa.

– Estamos atrasadas? – Suzi perguntou, observando Mônica tirar do guarda-roupa uma saia jeans e uma blusa vermelha.
– Não... Temos tempo de sobra.
– Menos mal... – Suzi pegou sua toalha e se dirigiu ao banheiro. Durante o banho, Suzi pensou em como seria seu primeiro dia de aula. Pensou nos trabalhos em grupo, no intervalo das aulas... Era tão difícil para ela se socializar... Não queria obrigar Mônica a ficar em sua companhia o tempo todo...

Após o banho, Suzi se arrumou e desceu as escadas. Encontrou Mônica na cozinha com sua mãe e seu pai:

– Aí está ela! – disse Dona Luísa, colocando uma jarra de suco sobre a mesa. – Venha querida, sente-se e tome seu café.

– Obrigada, Dona Luísa. – Disse Suzi, sorrindo.
– E então, vocês vão querer uma carona até a escola, meninas? – perguntou Seu

Sousa.

– Ah, valeu pai, mas a gente combinou de passar na casa da Magali para irmos

juntas. – disse Mônica.

– Bem, então eu vou indo nessa... É sempre bom chegar mais cedo no trabalho. -

Seu Sousa deu um beijo de despedida em Dona Luísa, um beijinho na testa de Mônica e, para a surpresa de Suzi, um beijinho em sua testa também.

Naquele momento, Suzi começou a pensar em como a família de Mônica sempre a tratou bem. Desde quando chegou da Inglaterra há alguns meses, Seu Sousa e Dona Luísa a tratavam como se fossem da família. Talvez eles estivessem sensibilizados pelo fato de Suzi ter perdido os pais em um acidente de carro. Suzi ainda sofria muito ao pensar neles, em como tudo aconteceu tão simples e rápido, em quando acordou em uma cama de hospital depois de cinco dias e recebeu a triste notícia de sua professora de dança. Depois desse acidente, Suzi decidiu voltar ao Brasil. Não queria viver sozinha na casa em que morou com seus pais, pois achava que isso iria lhe trazer mais tristeza do que já tinha. Então, ligou para o único número de telefone brasileiro de sua agenda. Suzi tinha muito a agradecer à Monica.

– Suzi? – Mônica a chamou, fazendo a loira voltar de seu devaneio. – Suzi, você tá me ouvindo?

– Oi? D-desculpa Mô... Eu tava distraída...

– Mamãe disse que chegou uma carta para você! – disse Mônica, empurrando uma carta na mão de Suzi.

Seu coração deu um pulo. Uma fina caligrafia formava o endereço de Mônica no envelope. Atrás, o remetente era de uma das mais finas ruas de Londres.

– Oh my God! Ela respondeu! – exclamou Suzi, dando um pulo da cadeira.

– Ela quem??? – disse Mônica, curiosa

– Madame Victoria! Minha professora de dança! – Suzi estava com as mãos tremendo, mas abriu o envelope sem rasgar nada. – Escrevi para ela mês passado, já estava desistindo de receber resposta...

Na carta havia um pequeno texto escrito com a mesma caligrafia fina do envelope. Suzi leu a carta, que lhe trazia notícias de Madame Victoria, da escola de dança e o quanto ela sentia saudades de Suzi. Lágrimas vieram aos olhos da loira ao ler que Madame Victoria sempre ia ao tumulo dos pais de Suzi lhes levar flores. Mônica a abraçou, secando-lhe as lágrimas:

– Ela deve gostar bastante de você, né amiga? 
– Ela cuidou de mim depois do acidente... Me ajudou a vender a casa lá e tudo... Ela é o único motivo pelo qual eu um dia voltaria para a Inglaterra... – Suzi se recompôs, abraçou Mônica e guardou a carta na bolsa entre seus cadernos. 
– Bem meninas, é melhor vocês irem logo, ou vão se atrasar. – disse Dona Luisa, pousando uma mão no ombro de Suzi.
As garotas pegaram suas bolsas, deram cada uma um beijo em Dona Luísa e saíram sob o sol frio da manhã.

Ao chegarem à casa de Magali, encontraram Cebola e Cascão, que estavam apoiados no muro:
– Ué? O que vocês estão fazendo aqui? – perguntou Mônica.
– Véio... Ela ainda tá comendo! – disse Cascão, sentando no muro.

– Chamamos ela três vezes e nada! – Cebola coçou a cabeça, brincando com o skate de Cascão.

– Péra aí que eu vou lá... – Mônica se dirigiu à porta da casa de Magali e tocou a campainha. Dona Lina abriu a porta e Mônica entrou. 
Durante um tempo, Suzi ficou a sós com Cebola e Cascão na rua. Eles olhavam um para o outro e depois olhavam para Suzi, que ficava um pouco encabulada. Então Cebola disse:
– Como é morar com a dentuça? – Cascão soltou uma risada pelo nariz.

– Como assim? – perguntou Suzi.

– Ela ronca muito? – perguntou Cascão, fazendo Cebola soltar uma gargalhada.

– Aff... Vocês não crescem não? – Os garotos ficaram sérios de repente. Mas logo começaram a cochichar e Suzi concluiu que não, eles não crescem. Logo, Mônica saiu pela porta puxando pelo braço uma Magali muito frustrada, com a boca cheia de sanduíche de peito de peru light, a outra metade na mão:

– É ela tava comendo ainda! – disse Mônica, dando um beliscãozinho em Magali.
– Eu num falei? – Cascão disse, descendo do muro e pegando o skate.
– Hmhmmfghh... – Tinha tanto sanduiche na boca de Magali que ela mal conseguia falar... Então, engoliu – A gente nem tá atrasado!

– Mas eu não falei ontem que a gente ia mais cedo pra mostrar a escola pra Suzi? – perguntou Mônica.

– Ah é...
– Então, bora, porque com essa demora já estamos atrasados! – disse Cebola, empurrando as garotas à frente.